Operação ‘Machine Head’: PCES prende sete mulheres em ação coordenada na Grande Vitória e sul do Estado
A Polícia Civil do Espírito Santo (PCES), por meio do Centro de Inteligência e Análise Telemática (Ciat), das Delegacias Especializadas, e a Subsecretaria de Inteligência (Sei) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), com o apoio da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core), deflagraram, na madrugada dessa segunda-feira (30), a Operação Machine Head. A ação foi realizada em Vitória e Serra, na Grande Vitória; em Aracruz, no norte do Espírito Santo; e Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado.
O objetivo da operação foi cumprir dez mandados de prisão e 18 de busca e apreensão contra familiares de integrantes do alto escalão do Primeiro Comando de Vitória (PCV), responsáveis por transmitir ordens e transportar drogas para o interior do presídio Máxima II. A operação contou com a participação do secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, Leonardo Damasceno.
Durante a operação, sete mulheres, com idades entre 22 e 48 anos, foram presas, sendo que entre elas havia mãe e filha. As prisões ocorreram nos bairros da Penha, Itararé, Conquista e São Benedito, em Vitória, além de uma prisão no bairro Novo Parque, em Cachoeiro de Itapemirim.
O resultado da operação foi apresentado em coletiva de imprensa, que ocorreu na tarde dessa segunda-feira (30), na Chefatura da Polícia Civil, em Vitória.
O subsecretário de Estado de Inteligência (Sei) da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), delegado Romualdo Gianordoli, destacou a importância das ações no Espírito Santo para conter o avanço das organizações criminosas.
“O Espírito Santo tem trabalhado muito bem para impedir que essas organizações cresçam e aumentem seu poder de corrupção e destruição. Embora enfrentemos casos graves, conseguimos manter o controle, principalmente quando comparado a outros estados. Isso reflete diretamente na redução dos índices de homicídios. E é importante lembrar que, diferentemente de estados como São Paulo, onde uma facção criminosa domina todo o território, aqui temos mais de uma facção disputando espaço. Mesmo assim, conseguimos manter essas facções sob controle”, salientou Romualdo Gianordoli.
Ele também explicou a dinâmica das organizações criminosas, ressaltando o papel essencial de alguns de seus membros. “Uma organização criminosa funciona como uma engrenagem com várias partes. Essas pessoas eram responsáveis por transmitir recados entre os presos do Primeiro Comando de Vitória (PCV) e seus aliados externos. Essa comunicação permite que os líderes continuem controlando o tráfico de drogas e ordenando execuções, mesmo estando presos. Muitas vezes, esses recados incluem ordens de homicídios, queimas de ônibus e até a organização de assassinatos de policiais. São indivíduos cruciais dentro da organização, que dificilmente seriam capturados apenas com ações ostensivas”, frisou Gianordoli.
“Somente investigações aprofundadas permitem que se chegue até eles. Essa operação é fundamental para interromper ou, no mínimo, reduzir esse fluxo de comunicação entre os presos e o mundo externo”, completou subsecretário.
O coordenador do Centro de Inteligência e Análise Telemática (Ciat), delegado Alan Moreno de Andrade, destacou a importância das pessoas envolvidas no esquema criminoso. “Já temos alguns que podem ser citados. Entre eles estão Caveira, Fu e Wanderson, que fazem parte do segundo escalão do Primeiro Comando de Vitória, o PCV. Essas pessoas se comunicavam diretamente com Fernando, o Marujo, transmitindo ordens da liderança do PCV, localizada no Complexo Máxima II, para as ruas. Isso demonstra a relevância delas dentro da facção criminosa”, contou.
Alan Andrade explicou o funcionamento da troca de informações dentro da facção. “Em alguns casos, os bilhetes eram enviados em tempo real. Ainda estamos investigando esses detalhes, e, durante as oitivas, vamos questionar as envolvidas para ver se colaboram com as investigações. Um exemplo já identificado foi o homicídio de um homem conhecido como ‘Punho de Aço’, em Cachoeiro de Itapemirim. Informações obtidas por escutas confirmaram quem foi o mandante do crime. Apesar de a investigação já estar quase encerrada, nosso relatório de inteligência ajudou a corroborar toda a investigação, comprovando a autoria”, destacou o coordenador do Ciat.
Sobre a forma como as mulheres transportavam as mensagens, Andrade disse: “Trabalhamos com algumas hipóteses, sendo a principal o uso de fundos falsos em roupas. Outra possibilidade é que elas tenham ingerido as mensagens em pequenas cápsulas. Ainda temos três mandados pendentes, pois algumas das envolvidas não estavam em casa no momento das prisões. Vale ressaltar que a investigação é mais ampla e envolve outras pessoas. Inclusive, presos do Complexo de Viana serão ouvidos para esclarecer melhor a situação.”
Questionado sobre a possível participação de policiais penais, o delegado Alan de Andrade foi categórico: “Não temos qualquer indicação de que policiais penais estejam envolvidos. Pelo contrário, a Polícia Penal é uma parceira constante da Polícia Civil, e trabalhamos juntos em prol da sociedade capixaba”, acrescentou.
“Essa operação já tem cerca de um ano. É um trabalho técnico que exige análise minuciosa dos nossos analistas. Percebemos um fluxo constante de informações saindo do sistema prisional e chegando ao Primeiro Comando de Vitória. A facção tem infraestrutura para garantir a circulação de informações dentro e fora do presídio, e conseguimos delimitar as ações dos chamados ‘quadrados’, que são os responsáveis por tomar decisões de dentro da penitenciária e repassá-las para fora”, explicou o delegado Alan Andrade.
Seis das prisões ocorreram em Vitória e uma em Cachoeiro de Itapemirim. “No momento das prisões, as mulheres preferiram não comentar nada sobre a investigação. Vamos ter a oportunidade de ouvi-las formalmente durante os interrogatórios”, informou.
Operação ‘Machine Head’: O nome Machine Head faz referência ao significado de ‘cabeça de máquina’. A operação visava desmantelar essa “máquina” de comunicação, que permite aos líderes, mesmo presos, coordenar crimes por meio de seus membros em liberdade.
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